Sejam patológicas ou fisiológicas, as causas do mau hálito devem ser prevenidas.
Beber muita água, evitar comidas com enxofre na composição ou que ressequem a boca, optar por alimentos fibrosos e duros, mastigá-los bem para aumentar a produção de saliva, limpar a língua sempre que consumir itens ricos em proteínas (leite, derivados, carne vermelha), evitar o estresse intenso, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e fumo, assim como não utilizar solução para bochecho que contenha álcool na composição.
A lista de recomendações pode ser acrescida de outros tantos itens, mas, no geral, quem pratica bons hábitos de higiene consegue prevenir o surgimento do mau hálito se a causa for fisiológica. Mas quando a halitose é patológica, só o tratamento da doença (cárie, gengivites, periodontites ou ´piorréias) garantirá o fim do problema, afirma Dra. Daiane Lima de Oliveira Rocha, presidente da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas dos Odores da Boca (ABPO). Segundo a especialista, as alterações na boca podem ter mais de 50 causas.
´Infelizmente no Ceará e em todo o Brasil ainda há poucos profissionais que se dedicam a esse tipo de tratamento (geralmente são dentistas, mas com cursos específicos para o tratamento de halitose). É muito eficiente e preciso quando bem executado, embora o atendimento seja realizado apenas na rede privada de saúde´.
Alimentos
Qual a relação entre a alimentação e mau hálito? ´A princípio, todos os alimentos podem estar relacionados ao problema já que o processo de degradação começa na mastigação, liberando os odores de alimentos em processo de quebra´, afirma a nutricionista Jô Marinho, formada pela Universidade Bandeirante de São Paulo que trabalha com alimentação natural e vegetariana.
O problema maior, descreve ´é quando ficamos muito tempo sem nos alimentar. Após cerca de 4 horas, o organismo faz uma ´leitura´ de que precisamos de energia e começa a reservá-la em formato de gordura, utilizando a proteína de reserva que fica nos músculos e vísceras. Neste processo de degradação de proteína ocorre a cetose metabólica, que causa a liberação de gases cetosos pelo corpo, contribuindo diretamente para o surgimento da halitose´. O ideal, segundo Jô Marinho, é começar o dia consumindo alimentos leves e naturais, frutas e sucos sem adição de açúcar ou adoçantes, asssim como os alimentos ricos em fibras que são desintoxicantes ricos em vitaminas.
Saburra
Massa branca e amarelada composta por células bucais descamadas, saliva, restos alimentares e bactérias, a saburra lingual é um dos motivos importantes para o mau hálito. As bactérias presentes nessa massa trazem como característica o fato de transformar a proteína em enxofre. Dai ser comum sempre que se ingere leite, laticínios e carne vermelha, ocorrer a produção acentuada de saburra dispositada na língua.
A produção de saburra também é potencializada pelo ressecamento da boca causado pela ingestão de bebida alcoólica, remédios (antibióticos e medicamentos psiquiátricos) ou de alimentos muito quentes, salgados ou condimentados. ´Mais células da boca vão descamar e cair na língua. A célula existente na boca é feita basicamente de proteína. Assim, a quantidade de proteína disponível na saburra cresce e a bactéria pode transformar tudo isso em enxofre, gerando o mau hálito´, informa Daiane Rocha.
A limpeza da língua deve ser obrigatória pois o órgão é o ´chão´ da boca, sendo recomendada pelo menos três vezes ao dia. Pode ser feita com escova dental, mas o ideal é usar um limpador, desenvolvido especificamente para essa finalidade. É importante lembrar que os limpadores localizados na parte posterior de algumas escovas dentais não possuem a mesma eficácia que os limpadores de língua convencionais, confeccionados em plástico rígido ou inox e que promovem uma higienização mais eficaz.
A redução da quantidade de saliva é outra causa de halitose. Na verdade, o aumento da saburra é só a conseqüência final, sendo as alterações salivares o foco do problema. Pode ocorrer desde uma redução momentânea, fisiológica (halitose temporária), até uma hipossalivação (redução na produção de saliva, com alterações na qualidade (mais viscosa e espessa), resultando em perda na lubrificação das células bucais e descamação celular excessiva.
´Essa alteração é chamada de xerostomia, mas está errado. A hipossalivação é uma doença onde há queda na produção salivar; a xerostomia é um sintoma que o paciente pode ou não ter´, conclui.
PREVENÇÃO
‘Nem todos os profissionais gastam o tempo ensinando o paciente a cuidar bem de seus dentes´.
‘Considero que isso é uma grande falha, pois prevenir deveria ser a maior prioridade e não só curar.´
(Daiane de Oliveira Rocha, Presidente da ABPO Ceará)
FIQUE POR DENTRO
A boca denuncia o estado emocional
A reação provocada pelos odores exalados pelo corpo – seja do hálito, do suor ou mau cheiro nos pés (´chulé´) e nas axilas – possuem fortes componentes subjetivos e culturais. No caso específico da halitose, destaca Dra. Daiane Rocha, o problema pode repercutir na vida pessoal, profissional, familiar e íntima do portador. Interfere em suas relações sociais, podendo provocar seu afastamento em casa e no trabalho.
´Há inúmeros relatos na clínica de pacientes com depressão, ansiedade, aumento de timidez, queda de auto-estima, insegurança e outros (até casos de divórcios, saída de empregos ou cursos, pessoas que não saem mais de casa e até tentativa de suicídio), todos especificamente relacionados ao quadro de halitose. A pessoa se afasta e os outros se afastam dela´, afirma.
Situações de estresse intenso ou medo podem interferir no odor exalado. Os indivíduos ansiosos ou estressados se descuidam da escovação e do uso do fio dental com mais freqüência. Além disso, apresentam maior tendência ao fumo, ao consumo de álcool e drogas, sendo esse comportamento uma porta para as doenças periodontais, facilitando sangramentos, inflamações, infecções, cáries, doenças nas gengivas, lábios e língua.
Entrevista: Regina Clara Papaleo (Da diretora da Uniodonto -CE, especialista em cirurgia e traumatologia buco-maxilo-facial. Atua em periodontia)
Um mau-hálito persistente, por definição, reflete a existência de uma patologia.
Como é possível detectar o próprio mau-hálito através do auto-exame?
Lamber o punho e esperar que seque ou cheirar um palito após introduzi-lo em uma área interdental. A análise da saburra lingual e dos fragmentos interdentais, duas causas principais de putrefação, proverá uma imediata noção das possíveis causas intra-orais da halitose.
Atribui-se à boca ressecada, no caso dos respiradores bucais a halitose. Até que ponto isso é verdadeiro?
Nos respiradores bucais temos a desidratação dos tecidos que normalmente são banhados pela saliva. Esse fator baixa a resistência celular aos agentes irritantes locais tal como a placa bacteriana. Além do ressecamento das mucosas, a placa fica livre da ação da lavagem pela saliva, tornando-se cada vez mais volumosa e resistente, o que dificulta sua remoção pela escova dental. Neste local teremos instalada uma gengivite e o mau-hálito.
A redução da quantidade de saliva também implica em halitose? Por quê?
Sim. As secreções salivares são protetoras por natureza, pois mantêm os tecidos orais em um estado fisiológico. A saliva exerce grande influência sobre a placa bacteriana por meio da limpeza mecânica das superfícies orais expostas. Pacientes portadores de xerostomia(boca seca) freqüentemente se apresentam com grandes quantidades de placa nos dentes, próteses e dorso da língua. Com a redução da saliva, a quantidade de microrganismos na cavidade oral e a liberação dos gases que provocam o mau-hálito também aumentam.
Dentre as causas intra-orais quais as mais comuns?
Felizmente, as mais comuns são também as mais fáceis de tratar, ou seja: a gengivite, a periodontite e a saburra. A maioria da população negligencia a escovação o que leva a formação da placa bacteriana sobre as unidades dentárias, mucosa oral e língua. A placa bacteriana é o fator preponderante para o aparecimento da gengivite. Se não tratada, em geral, evolui para a periodontite. A saburra é o acúmulo de remanescentes alimentares misturado a células esfoliadas e bactérias formando uma camada no dorso da língua, sendo esse último uma fonte primária do odor oral fétido que é exalado.
Quais são as causas extra-orais do mau-hálito?
As causas de origem extra-orais são uma minoria. Elas incluem: patologias otorrinolaringológicas (sinusite) doenças sistémicas (diabetes), problemas hormonais ou metabólicos, insuficiência renal ou hepática, carcinoma brônquico ou doenças gastrintestinais.
Na sua opinião, como deve ser a limpeza bucal ideal?
A motivação do paciente é mais importante que o uso da escova em si, que a técnica ensinada e a orientação que lhe foi dada de como utilizar a escova dentro de uma determinada técnica. Se o paciente não estiver ciente de que a higienização é importante para si, não adianta educá-lo na maneira de escovar. Uma vez motivado o paciente, passamos a educá-lo na escovação propriamente dita. Para aqueles que apresentam maiores dificuldades de higienização, lançamos mão dos evidenciadores, substâncias que coram a placa bacteriana, facilitando sua identificação e remoção pela escova e fio dental. Não devemos nos esquecer de higienizar o dorso da língua. Após a higiene oral, a escova deve ser cuidadosamente limpa e seca, evitando uma recontaminação da cavidade oral na próxima escovação.
Quais as recomendações para se evitar o mau-hálito? Quando a atenção deve ser redobrada?
Em primeiro lugar, consultar o dentista a cada seis meses. As patologias intra-orais são detectadas precocemente e o paciente é orientado para uma boa técnica de escovação. A atenção deve ser redobrada em pacientes que venham a ser tratados com a radioterapia na região da face e do pescoço. Esse tratamento, além de reduzir a produção de saliva, provoca outros efeitos na mucosa oral e músculos da face que tornam a higiene oral extremamente dolorosa. Um verdadeiro desestímulo para a escovação. Mulheres na menopausa por serem acometidas de xerostomia, que é um dos fatores do mau-hálito e usuários de próteses ou aparelhos ortodônticos, devido a grande facilidade de acúmulo de placa nesses dispositivos também são passíveis de desenvolver halitose se negligenciarem a escovação.
Giovanna Sampaio/Janine Maia
Editora / Repórter
Mais informações:
Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas dos Odores da Boca
site: www.abpo.com.br
E-mai:l abpo@abpo.com.br
(85) 3087.6242 (8 às 18h).
fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=549784